Erica Sarubbi e Joyce Serra
A conferência Global Investigations Review GIR Live: Women in Investigations, realizada em 19 de junho de 2025 em Londres, reuniu profissionais de investigações corporativas para discutir os desafios e tendências do setor. O evento contou com a participação de profissionais de consultorias jurídicas, organizações multinacionais, advogadas e autoridades, que compartilharam experiências sobre investigações complexas, compliance e gestão de crises.
Sob a coordenação de Erica Sarubbi (sócia-fundadora do escritório Maeda, Ayres & Sarubbi) e Kate Atkinson (Chair, do escritório norte-americano Miller & Chevalier), a conferência abordou temas que refletem as mudanças no cenário global e as transformações tecnológicas no setor. A programação incluiu cinco painéis principais, dez mesas redondas temáticas e duas entrevistas com autoridades.
Dinâmicas geopolíticas e suas implicações nas investigações corporativas
A conferência se iniciou com dois painéis complementares que abordaram as transformações geopolíticas globais e seus impactos tanto nas investigações corporativas e enforcement quanto nas estratégias de compliance corporativo. O primeiro painel, moderado por Erica Sarubbi, contou com Christine Braamskamp (Jenner & Block), Iris Fischer (Blake, Cassels & Graydon), Muireann Dennehy (Lombard Odier & Cie SA), Emma Isaac (Serious Fraud Office – SFO UK) e Sonali Patel (Willkie Farr & Gallagher) para discutir como as tendências globais e nacionais no enforcement corporativo estão sendo moldadas pelo cenário geopolítico atual e o impacto em decisões corporativas sobre condução de investigações e reporte voluntário. Nesse sentido, o painel apontou que, apesar das incertezas que envolvem as prioridades das autoridadesnos Estados Unidos, as atividades de enforcement em diversas jurisdições continuam, com destaque para a postura ativa do SFO frente a investigações de casos de corrupção e outras violações, contando com cooperação internacional.
O segundo painel, sob a moderação de Melissa Gohlke (Cooley), complementou a discussão a partir da perspectiva da gestão do programa de compliance corporativo. Angela Main (Zimmer Biomet), Vivianne Gordon-Pullar (SAP), Wendy Millette (Fresenius Medical Care) e Anneka Randhawa (White & Case) compartilharam suas experiências práticas e estratégias para navegar mudanças nos programas de compliance, considerando as áreas de risco emergentes e a necessidade de implementação eficaz de recursos limitados. Ademais, o painel enfatizou a gestão de stakeholders internos e externos e estratégias para aproximar o compliance das áreas de negócios.
Uso de inteligência artificial generativa nas investigações corporativas
O terceiro painel, moderado por Brooke Hopkins (Alvarez & Marsal), abordou o uso da Inteligência Artificial Generativa nas investigações corporativas. Anna Lambourn (Salesforce), Hayley Lund (Weil, Gotshal & Manges), Frances McLeod (Forensic Risk Alliance) e Lisa Miller (Sidley Austin) exploraram as aplicações e riscos dessa tecnologia emergente no contexto de investigações corporativas complexas. O painel destacou as oportunidades significativas que a IA Generativa oferece para acelerar e aprimorar processos investigativos, mas também os desafios críticos relacionados à supervisão adequada e à proteção de informações confidenciais.
Estudos de Caso: crimes financeiros complexos e investigações de violações de direitos humanos
Os dois painéis de estudos de caso ilustraram a complexidade crescente das investigações corporativas contemporâneas.
O quarto painel, moderado por Leah Moushey (Miller & Chevalier), concentrou-se em questões relacionadas a lavagem de dinheiro, financiamento ao terrorismo e sanções. Meredith Fitzpatrick (Forensic Risk Alliance), Floortje Groendijk (Ministério Público Nacional Holandês), Samallie Kiyingi (Standard Chartered Bank) e Gabriela Vieira (dLocal) compartilharam reflexões sobre ações de enforcement recentes e estratégias para lidar com a evolução regulatória constante, riscos em mercados emergentes e desafios no setor de ativos virtuais.
O quinto painel, moderado por Melanie Ryan (Pinsent Masons), abordou investigações de alegações de trabalho forçado na cadeia de suprimentos. Nicola Cobb (FTI Consulting), Anita Clifford (Red Lion Chambers), Lauren Higgins (Tate & Lyle) e Nisha Sawhney (ABB) exploraram similaridades e diferenças entre investigações focadas em direitos humanos e outras investigações, destacando aspectos de remediação e abordagem. O painel também destacou a interação entre questões de direitos humanos e crimes financeiros, que requerem investigação especializada.
Inovação e trocas entre participantes da conferência
Em 2025, a conferência GIR Women in Investigations 2025 inovou ao introduzir dez mesas redondas temáticas que proporcionaram francas discussões em grupo entre os participantes. Essas sessões interativas permitiram um aprofundamento maior em tópicos específicos e facilitaram o intercâmbio direto de experiências práticas entre profissionais de diferentes jurisdições e setores. As mesas redondas abordaram temas diversos, incluindo proteção de dados em investigações, investigações comportamentais, estratégias para manter confidencialidade, e o papel estratégico do General Counsel na gestão de crises corporativas. Entre as mesas temáticas, destacamos a discussão sobre AML Investigations and Emerging Risks, conduzida por Joyce Serra (associada do escritório Maeda, Ayres & Sarubbi), que abordou os desafios em investigações de lavagem de dinheiro e as estratégias adequadas para navegar riscos e ameaças emergentes, inclusive cooperação, interações com reguladores e uso de novas tecnologias.
Entrevistas
O evento se encerrou com duas entrevistas excepcionais. A primeira entrevistada foi Lucy Rigby KC MP (Solicitor General, UK Attorney General’s Office). A jornalista Ana de Liz (GIR) conduziu as perguntas para abordar desde a carreira da convidada até as prioridades para alocação de recursos nas atividades de enforcement no Reino Unido. Dois pontos de destaque da entrevista foram o incentivo ao uso e investimento em inteligência artificial e a menção ao rule of law como pedra fundamental da democracia no contexto da abordagem das políticas de diversidade e inclusão.
A segunda entrevistada foi Maryna Kavaleuskaya (Special Assistant to Vice President, Integrity Vice Presidency, World Bank Group), com a condução de Kate Atkinson (Miller & Chevalier). A entrevista abordou a trajetória profissional da convidada e sua visão sobre o setor de investigações e compliance e os desafios que enfrenta. Como fio condutor da entrevista, destacou-se a mensagem inspiradora de busca por alinhamento entre valores fundamentais e projetos profissionais, máxima que marcou a vida e carreira da entrevistada.
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